sexta-feira, 18 de janeiro de 2019





2º Evento Gastronômico na Colônia de Pescadores Caiçara 
12 e 13 de janeiro de 2019 -  Janga – Paulista – Pernambuco

     Desde que o primeiro evento do Projeto Movimento Caiçara que aconteceu no dia 29 de julho de 2018, que algumas pessoas me perguntavam quando iria acontecer novamente. Na verdade, eu não sabia responder, uma vez que a agenda era formada pelo Grupo Gastronomia Recife e que uma série de ações precisavam se consolidarem. No entanto, percebi que uma grande maioria das pessoas, achavam que retornariam sempre para a mesma colônia no Janga nos fins de semana, e que lá, poderiam encontrar novamente aqueles pratos deliciosos e desconhecidos.
     O segundo evento na colônia de pescadores no Janga, retornou ao local devido uma iniciativa de amigos e profissionais na área de saúde e lazer, que estiveram no primeiro evento. Eles perceberam que aquele momento gastronômico poderia ser experienciado mais uma vez, e que a expressão cultural de diversos grupos como capoeira e a dança praieira do coco estaria harmonizada com a proposta do projeto. Foi então sob o aspecto desse novo olhar, que o evento aconteceu pela segunda vez.
     O local foi em outra caiçara, gentilmente cedida por um grupo de amigos e representado pelo Sr. Eriverto Cavalcanti Viana.


Sr. Eriverto Cavalcanti Viana e Esposa 

     A sua colaboração foi inestimável para o acontecimento do evento, pois o local oferecido atendia bem as expectativas dos dois grupos (o da gastronomia, que forma a base primordial do evento e dos organizadores da ação cultural experimental).
     Podemos afirmar que foi um evento solidário, houve muita boa vontade de dezenas de pessoas em colaborar e prestigiar. Relacionar todos os nomes seria uma tarefa honrosa, mas também cometeríamos o engano de esquecer muitos nomes e alguns que nem chegamos a saber qual. Mas existem os que foram também diretamente importantes, como a colaboração do Sr. Júnior (da Caiçara ao lado) e do Presidente da Federação dos Pescadores e Apicultores, e que também é presidente da Colônia Z-2, o Sr. Luiz Medeiros Leal Filho ou Mangote como é mais conhecido.

Luiz Medeiros Leal Filho ou Mangote






















     Em relação ao trabalho gastronômico, é importante salientar e relembrar o que de fato está ocorrendo com o que se chama Projeto Movimento Caiçara.        O grupo de Gastronomia Recife é formado por gastrônomos cozinheiros e chefs (Marcos Lôbo, Luciano Barbosa, Gutenberg José e Joaquim Gomes Neto) tem como objetivos a pesquisa e o redescobrimento de pratos antigos e que não mais fazem parte dos cardápios de bares, restaurantes e até das próprias fontes que os originaram. Seguindo nessa linha de pesquisa, foi iniciado o trabalho nos mercados públicos e nas colônias de pescadores, recebendo o status de projetos: Gastromercado e Movimento Caiçara. O Mercado de Boa Viagem e a Colônia de Pescadores Z-2 no Janga, são respectivamente, os primeiros passos desse curioso trabalho.

Assista os vídeos abaixo:

     Um dos integrantes do Grupo de Gastronomia Recife que é o regente técnico científico dessas pesquisas é o Gastrônomo e Chef Marcos Lôbo. A base da investigação está intimamente relacionada com a sua especialidade que são os Pancs (Plantas Alimentícias não Convencionais) e que o faz realizar trabalhos de campo no agreste, sertão e litoral. Os resultados de suas pesquisas se transformam em publicações e esse conhecimento também é compartilhado em redes sociais, em palestras no Brasil e no exterior. Aqui mesmo no Blog Atrativo Pernambuco, reconhecemos a necessidade de se criar um espaço a mais para esse pesquisador nato na Coluna do Chef Marcos Lôbo e no Projeto Sertagreste.


Chef Marcos Lôbo 

Assista os vídeos abaixo:





     Um dos principais incentivadores para a realização da pesquisa de litoral iniciar na colônia da praia do Janga foi o Chef Luciano Barbosa, também um dos integrantes do grupo de gastronomia. Como profundo conhecedor do lugar, bastante popular e com muitos amigos pescadores, ele também reconheceu a condição favorável para as pesquisas e conversas com a comunidade tradicional. 


Chef Luciano Barbosa

     E foi então, aos poucos, que o entendimento do que se estava se desenvolvendo foi se ampliando.
     Resumindo o que é o trabalho desses incansáveis pesquisadores, os dois projetos supracitados são itinerantes, mas, os resultados podem permanecer.     Mas vamos nos focar no Movimento Caiçara e conhecer suas etapas básicas: Se inicia com a pesquisa de campo e contato com pescadores artesanais sobre as receitas, saberes e fazeres da gastronomia típica e pode levar muitos dias com retornos constantes. Nessa fase, as informações do novo e o do antigo são registrados; no segundo momento, os redescobrimentos das receitas antigas são apresentadas e apreciadas na própria colônia com participação da comunidade local; e sua conclusão e  permanência das receitas tem uma sugestão apresentada para bares ou restaurantes de entorno, que se comprometem em produzir e comercializar as receitas com no mínimo três pratos. Também são estimulados a criar versões gourmet simples e molhos; após isso, a pesquisa segue para outras colônias.
     Mas o sucesso de um evento especial como esse, passa também por uma equipe de apoio de reconhecida competência e versatilidade. Foi então que o reforço veio com os gastrônomos Fernando Padilha (Recife) e Jocely Francisca (Paulista).

Fernando Padilha

Jocely Francisca








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     O Chef Luciano Barbosa trouxe a sobrinha Júlia Vitória, que gosta de cozinhar, e que ajudou na preparação dos alimentos com muita dedicação.




     Mas um dia antes do evento, os Chefs Marcos e Luciano estiveram muito próximos da praia, seus ambientes de pesquisas. Fizeram observações, coletas de mariscos que usariam na decoração de pratos, identificaram Pancs, acompanharam o arrastão de uma rede pequena, interagiram com pescadores e receberam doações de peixes.



Assista o vídeo abaixo:







Assista os vídeos abaixo:













     Como estavam próximos do Denis Bar, tiveram uma pequena reunião com o proprietário sobre a possibilidade dele aderir ao projeto, o mesmo se mostrou interessado em avançar nas orientações e comercializar três receitas, inclusive a feijoada de frutos do mar, um prato que ele muito apreciou no primeiro evento caiçara. 
    Nesse dia, encontraram o Sr.Geraldo Soares Lima de 79 anos, caminhando tranquilo pela praia. Ele é aposentado e de uma serenidade cativante. Falava calmamente que aprendeu com o seu pai, Sr. José Soares de Lima, a profissão de pescador. Ele rende muitas homenagens sobre o caráter reto e justo do seu genitor. Eles atuavam na área de Rio Doce em Olinda. O Sr. Geraldo é um homem singular, de muitas histórias e experiências no mar.       Na ocasião, os Chefs Marcos Lôbo e Luciano Barbosa aproveitam a oportunidade e colhem mais informações, colaborando com o blog na condução das perguntas em uma rápida entrevista com ele.

Sr.Geraldo Soares Lima


     Nas primeiras horas do sábado, a equipe estava a todo vapor. Havia a expectativa e confirmação de muitos convidados e colaboradores. O ritmo típico de uma cozinha que foi improvisada de uma caiçara, que serve para guardar toda a sorte de materiais e tralhas de pescas, foi cuidadosamente limpa e arrumada, sem descaracterizar ao que ela se propõe. O compromisso com a higiene e manipulação dos alimentos também foi cuidadosamente observado pela equipe. Havia uma crescente ameaça de chuva no horizonte, o céu escurecia, mas no caiçara ninguém quase tinha tempo de ver isso, a ordem do dia era o trabalho, limpar e tratar peixes e outros seres do mar, acender o fogo, ferver água, picar os legumes e organizar os temperos. A vozes altas e firmes dos chefs revelavam as necessidades, as equipes de apoio pareciam ter entrado em transe ou no modo automático, um tipo de concentração e foco no que está fazendo, que só quem teve experiências em cozinhas com esse ritmo sabe o que estou dizendo. Quem se aventurava em matar a curiosidade em ver a equipe trabalhando naquele ambiente rústico, cumprimentar e tirar fotos, imediatamente sentia a necessidade de sair, o trânsito naquele espaço estava destinado aos cozinheiros, garçons e colaboradores.




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     Os cardápios estavam nas mesas e os aromas já escapavam da caiçara, o caldinho de peixe foi o primeiro a ficar pronto e começou a ser servido, a fome ou a curiosidade dos clientes de conhecer os pratos é que ditavam o crescente movimento da cozinha.
     Do lado de fora, o público já se refrescava com água, sucos e cervejas e conhecia os diversos tipos de peixe. Um cação, tubarão pequeno, chamava atenção das pessoas.




     Aos poucos, os toldos, mesas e cadeiras estavam sendo montadas. Outras pessoas caprichavam na decoração. Havia música e sons de percussão  na presença de um grupo de coco e do Grupo de Capoeira Centro Cultural Madeira de Lei que iniciaram os “esquentes”. Em pouco tempo já tinha um público modesto, espalhado em pontos diferentes do espaço. 
    Depois os pedidos começaram a chegar nas mesas e os comensais em sua maioria, se deleitavam com os sabores do passado, outros optavam pelo tradicional peixe frito com pirão ou o pastel de peixe, o prato mais solicitado na cozinha: 
   Quando os pedidos se acalmaram, era o momento de fazer as fotos de recordações com os chefs e equipe.





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Assista o vídeo abaixo:

































 































     A chuva forte chegou, muita gente deixou de comparecer, mas quem foi não se arrependeu, com certeza valeu a pena. Pensando nos que não foram, a equipe de gastronomia decidiu continuar no domingo e nesse dia, o sol se fez presente. O Chef Marcos Lôbo e equipe fizeram outro convite pelas redes sociais:

Assista o vídeo abaixo:

Convite para o segundo dia do evento

    O projeto Movimento Caiçara com suas pesquisas nas colônias de pescadores, trazem muito mais do que os sabores esquecidos do passado, trazem uma confirmação de que todos aqueles pratos, de fato, representam aquela comunidade tradicional. O modo de preparar o alimento, orienta o paladar na decisão se é gostoso ou não, atravessa as décadas, sofrem influências e se reinventam. Se essa tradição do saber fazer não for passada pelas gerações, elas entram para o arquivo do esquecimento, perdem os rastros e se tornam tão raros de se degustar e experienciar como foi esse evento, que aqui em poucas linhas, fazemos a nossa parte de perpetuar.

Gustavo Pacheco
Blog Atrativo Pernambuco