quarta-feira, 4 de novembro de 2020

 


UMA VIAGEM PELOS SERTÕES DE PERNAMBUCO

Ceci do Eirado Amorim

Região pouco conhecida, mas com uma riqueza ambiental e cultural surpreendentes. A distância parece ser uma das dificuldades para os deslocamentos, mas vale a pena viajar por 5horas, 8 horas ou mais para vivenciar esse vasto sertão e ter experiências inesquecíveis. Hoje, muitas cidades já contam com meios de hospedagem de qualidade e bons restaurantes.

Começando por Arcoverde, “a porta do sertão”, destaca-se pelos seus folguedos populares e movimentos religiosos. Ali perto, Ibimirim com seus mestres santeiros e o Vale do Catimbau, onde se pode fazer trilha com condutor observando a fauna e a flora tão típica da localidade. Seguindo no sentido da Região de Itaparica, Floresta com seu casario, suas igrejas, seus doces e licores de tamarindo, a famosa Pedra do Navio e muito mais. A cerca de 40km, o distrito de Nazaré do Pico com a sua história do Cangaço e das Forças Volantes, uma história a ser vivenciada no Museu das Forças Volantes, em fase final de instalação. Também próximo à Floresta, mas em outro sentido, Petrolândia com seu belo Lago de Itaparica e sua igreja quase que totalmente submersa, registro da antiga cidade que foi inundada para a construção da Barragem de Itaparica e seu lago. Um passeio de catamarã por esse marzão de águas doces é algo inenarrável. Outras cidades próximas também têm seus atrativos e merecem uma visita.


Na região do Sertão do São Francisco, imperdível a visita, em Lagoa Grande, às vitivinícolas, uma atividade que agroindustrial que prosperou no sertão pernambucano. Há vinhos produzidos aqui que são premiados internacionalmente. Em Santa Maria da Boa Vista, município vizinho, um belo casario muito bem conservado. Na gastronomia, o destaque é o cari, peixe de água doce conhecido como a “lagosta do sertão”. A bela orla do rio São Francisco e a famosa Serenata da Recordação, um evento anual que vale a pena participar. Nesse mesmo sertão, Afrânio, a 100km de Petrolina, com o seu charmoso distrito de Caboclo, também com um casario colorido, o Museu Pai Chico e o seu famoso doce de tamarindo.


Já seguindo para o Araripe, a cidade de Araripina, com o Santuário Senhor da Verônica, uma história muito interessante. Do alto, pode-se contemplar a Chapada do Araripe e as torres eólicas, além de visitar o santuário. Muitas trilhas podem ser feitas a pé ou de bicicleta. Interessante, também a vaquejada, as pegas de boi. Em Exu, a cidade de Luiz Gonzaga, com seu Parque Asa Branca, muito bem estruturado e com um incrível acervo sobre o rei do baião; o Sítio Caiçara, onde há a casa grande do Barão de Exu que, depois de restaurada, passou a abrigar o Museu Bárbara de Alencar, uma liderança na Revolução de 1817 e a Fazenda Araripe, onde Luiz Gonzaga nasceu.


Já no Sertão Central, Salgueiro, Serrita e São José do Belmonte, três municípios que destaco. O primeiro, tem edificações muito bonitas e conservadas, uma comunidade quilombola que cria peças artesanais em sisal e bordados muito interessantes, isso e muito mais exposto na Casa da Cultura de Salgueiro. Serrita, tem em julho a famosa Missa do Vaqueiro e um trabalho em couro admirável. Já São José do Belmonte é uma caixa de surpresas, a começar pelo pórtico da cidade, seguido do castelo armorial, da cidade propriamente dita e, na área rural, a Sítio Histórico da Pedra do Reino e o Ilumiara Pedra do Reino, este idealizado por Ariano Suassuna. Nesse lugar mágico, a história do movimento Sebastianista foi marcante. Saindo de Belmonte, como é carinhosamente chamado, a 20km, no sentido Recife, no distrito de Bom Nome, parada obrigatória no Café de Dona Neta, para degustação e compra do tradicional doce de leite.


E, por fim, o Sertão do Pajeú com seus 17 municípios, dos quais, destaco Serra Talhada, Santa Cruz da Baixa Verde, Triunfo, Flores, Afogados da Ingazeira, Tabira e São José do Egito. Serra Talhada chama a atenção pelos atrativos culturais, o Museu Casa da Cultura, a Fundação Cabras de Lampião com o Museu do Cangaço, o Sítio Passagem das Pedras – onde nasceu Lampião e muitos eventos de destaque. É uma cidade universitária. Já Santa Cruz da Baixa Verde, um singelo município muito bem estrutura, com seu casario e praças bem conservados. Na área rural, vários engenhos produtores de rapadura e muita história para contar. Subindo a serra, o “oásis do sertão”, Triunfo com seu microclima, teleférico, Museus – do Cangaço, da Cidade, a Casa do Careta, a Casa Grande das Almas, igrejas e conventos, o Quilombo das Águas Claras, entre outros. Seguindo em outra direção, Flores muito graciosa, com uma área rural muito bonita e artesanato que pode ser encontrado no Terminal Rodoviário. Afogados da Ingazeira, e São José do Egito se destacam na poesia e na cantoria. Em Afogados, o Museu do Rádio, muito interessante, a serra do Giz com suas inscrições rupestres, e muito mais. Tabira é famosa pelas vaquejadas e pelas fábricas de pipoca, quebra queixo e de amendoim salgado. Sua área rural também é muito bonita.


São cinco sertões bem diferentes conforme as suas características ambientais, históricas e culturais, todos surpreendentes. Vale colocar o pé na estrada e sair descortinando cada um deles.



Graduada em Comunicação Social pela UFPE) e Mestre em Administração e Comunicação Rural pela UFRPE. Trabalha na Empresa de Turismo de Pernambuco Governador Eduardo Campos (EMPETUR). Foi professora dos cursos de Turismo da Universidade Católica de Pernambuco e da Faculdade Frassinetti do Recife (FAFIRE)

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