2º Evento
Gastronômico na Colônia de Pescadores Caiçara
12 e 13 de janeiro de 2019 - Janga – Paulista – Pernambuco
Desde que o primeiro evento do Projeto
Movimento Caiçara que aconteceu no dia 29 de julho de 2018, que algumas pessoas me
perguntavam quando iria acontecer novamente. Na verdade, eu não sabia
responder, uma vez que a agenda era formada pelo Grupo Gastronomia Recife e que uma série de ações precisavam se consolidarem. No entanto, percebi que
uma grande maioria das pessoas, achavam que retornariam sempre para a mesma
colônia no Janga nos fins de semana, e que lá, poderiam encontrar novamente aqueles pratos
deliciosos e desconhecidos.
O segundo evento na colônia de pescadores
no Janga, retornou ao local devido uma iniciativa de amigos e profissionais na área de saúde e lazer, que estiveram no primeiro evento. Eles
perceberam que aquele momento gastronômico poderia ser experienciado mais uma
vez, e que a expressão cultural de diversos grupos como capoeira e a dança praieira
do coco estaria harmonizada com a proposta do projeto. Foi então sob o aspecto
desse novo olhar, que o evento aconteceu pela segunda vez.
O local foi em outra caiçara, gentilmente
cedida por um grupo de amigos e representado pelo Sr. Eriverto Cavalcanti Viana.
Sr. Eriverto Cavalcanti Viana e Esposa
A sua colaboração
foi inestimável para o acontecimento do evento, pois o local oferecido atendia
bem as expectativas dos dois grupos (o da gastronomia, que forma a base
primordial do evento e dos organizadores da ação cultural experimental).
Podemos afirmar que foi um evento
solidário, houve muita boa vontade de dezenas de pessoas em colaborar e
prestigiar. Relacionar todos os nomes seria uma tarefa honrosa, mas também
cometeríamos o engano de esquecer muitos nomes e alguns que nem chegamos a saber
qual. Mas existem os que foram também diretamente importantes, como a colaboração do Sr. Júnior (da Caiçara ao lado) e do Presidente da Federação dos Pescadores e Apicultores, e que também é presidente da Colônia Z-2, o Sr. Luiz Medeiros Leal Filho ou Mangote como é mais conhecido.
Luiz Medeiros Leal Filho ou Mangote
Em relação ao trabalho gastronômico, é
importante salientar e relembrar o que de fato está ocorrendo com o que se
chama Projeto Movimento Caiçara. O grupo de Gastronomia Recife é formado por
gastrônomos cozinheiros e chefs (Marcos Lôbo, Luciano Barbosa, Gutenberg José e Joaquim Gomes Neto) tem como objetivos a pesquisa e o
redescobrimento de pratos antigos e que não mais fazem parte dos cardápios de
bares, restaurantes e até das próprias fontes que os originaram. Seguindo nessa
linha de pesquisa, foi iniciado o trabalho nos mercados públicos e nas colônias
de pescadores, recebendo o status de projetos: Gastromercado e Movimento
Caiçara. O Mercado de Boa Viagem e a Colônia de Pescadores Z-2 no Janga, são respectivamente,
os primeiros passos desse curioso trabalho.
Assista os vídeos abaixo:
Um dos integrantes do Grupo de Gastronomia
Recife que é o regente técnico científico dessas pesquisas é o Gastrônomo e
Chef Marcos Lôbo. A base da investigação está intimamente relacionada com a sua
especialidade que são os Pancs (Plantas Alimentícias não Convencionais) e que o
faz realizar trabalhos de campo no agreste, sertão e litoral. Os resultados de
suas pesquisas se transformam em publicações e esse conhecimento também é
compartilhado em redes sociais, em palestras no Brasil e no exterior. Aqui
mesmo no Blog Atrativo Pernambuco, reconhecemos a necessidade de se criar um
espaço a mais para esse pesquisador nato na Coluna do Chef Marcos Lôbo e no Projeto
Sertagreste.
Chef Marcos Lôbo
Assista os vídeos abaixo:
Um dos principais incentivadores para a
realização da pesquisa de litoral iniciar na colônia da praia do Janga foi o
Chef Luciano Barbosa, também um dos integrantes do grupo de gastronomia. Como profundo conhecedor do lugar, bastante
popular e com muitos amigos pescadores, ele também reconheceu a condição favorável
para as pesquisas e conversas com a comunidade tradicional.
Chef Luciano Barbosa
E foi então, aos
poucos, que o entendimento do que se estava se desenvolvendo foi se ampliando.
Resumindo o que é o trabalho desses
incansáveis pesquisadores, os dois projetos supracitados são itinerantes, mas,
os resultados podem permanecer. Mas vamos nos focar no Movimento Caiçara e
conhecer suas etapas básicas: Se inicia com a pesquisa de campo e contato com pescadores
artesanais sobre as receitas, saberes e fazeres da gastronomia típica e pode levar muitos dias com retornos constantes. Nessa fase, as informações do novo e o do antigo são registrados; no segundo momento, os redescobrimentos das
receitas antigas são apresentadas e apreciadas na própria colônia com
participação da comunidade local; e sua conclusão e permanência das receitas tem uma sugestão apresentada para bares ou restaurantes de entorno, que se comprometem em produzir e comercializar as receitas com no mínimo três pratos. Também são estimulados a criar versões
gourmet simples e molhos; após isso, a pesquisa segue para outras colônias.
Mas o sucesso
de um evento especial como esse, passa também por uma equipe de apoio de
reconhecida competência e versatilidade. Foi então que o reforço veio com os
gastrônomos Fernando Padilha (Recife) e Jocely Francisca (Paulista).
Fernando Padilha
Jocely Francisca
Assista o vídeo abaixo:
O Chef Luciano Barbosa trouxe a sobrinha Júlia Vitória, que gosta de cozinhar, e que ajudou na preparação dos alimentos com muita dedicação.
Mas um dia
antes do evento, os Chefs Marcos e Luciano estiveram muito próximos da praia,
seus ambientes de pesquisas. Fizeram observações, coletas de mariscos que
usariam na decoração de pratos, identificaram Pancs, acompanharam o arrastão de
uma rede pequena, interagiram com pescadores e receberam doações de peixes.
Assista o vídeo abaixo:
Assista os vídeos abaixo:
Como estavam
próximos do Denis Bar, tiveram uma pequena reunião com o proprietário sobre a
possibilidade dele aderir ao projeto, o mesmo se mostrou interessado em avançar
nas orientações e comercializar três receitas, inclusive a feijoada de frutos
do mar, um prato que ele muito apreciou no primeiro evento caiçara.
Nesse dia, encontraram o Sr.Geraldo Soares Lima de 79 anos, caminhando tranquilo pela praia. Ele é aposentado e de uma serenidade cativante. Falava calmamente que aprendeu com o seu pai, Sr. José Soares de Lima, a profissão de pescador. Ele rende muitas
homenagens sobre o caráter reto e justo do seu genitor. Eles atuavam na área de Rio Doce em
Olinda. O Sr. Geraldo é um homem singular, de muitas histórias e experiências no mar. Na ocasião, os Chefs Marcos Lôbo e Luciano Barbosa aproveitam a oportunidade
e colhem mais informações, colaborando com o blog na condução das perguntas em uma
rápida entrevista com ele.
Sr.Geraldo Soares Lima
Nas primeiras
horas do sábado, a equipe estava a todo vapor. Havia a expectativa e
confirmação de muitos convidados e colaboradores. O ritmo típico de uma cozinha
que foi improvisada de uma caiçara, que serve para guardar toda a sorte de materiais
e tralhas de pescas, foi cuidadosamente limpa e arrumada, sem descaracterizar ao
que ela se propõe. O compromisso com a higiene e manipulação dos alimentos
também foi cuidadosamente observado pela equipe. Havia uma crescente ameaça de
chuva no horizonte, o céu escurecia, mas no caiçara ninguém quase tinha tempo
de ver isso, a ordem do dia era o trabalho, limpar e tratar peixes e outros
seres do mar, acender o fogo, ferver água, picar os legumes e organizar os
temperos. A vozes altas e firmes dos chefs revelavam as necessidades, as equipes de apoio pareciam ter entrado em transe ou no modo automático, um tipo de
concentração e foco no que está fazendo, que só quem teve experiências em cozinhas com esse ritmo sabe o que estou dizendo. Quem se aventurava em
matar a curiosidade em ver a equipe trabalhando naquele ambiente rústico, cumprimentar
e tirar fotos, imediatamente sentia a necessidade de sair, o trânsito naquele
espaço estava destinado aos cozinheiros, garçons e colaboradores.
Assista o vídeo abaixo:
Assista o vídeo abaixo:
Assista o vídeo abaixo:
Assista os vídeos abaixo:
Os cardápios
estavam nas mesas e os aromas já escapavam da caiçara, o caldinho de peixe foi o primeiro a ficar pronto e começou a ser servido, a fome ou a curiosidade dos clientes de conhecer os pratos
é que ditavam o crescente movimento da cozinha.
Do lado de fora, o público já se
refrescava com água, sucos e cervejas e conhecia os diversos tipos de peixe. Um
cação, tubarão pequeno, chamava atenção das pessoas.
Aos poucos, os toldos, mesas e
cadeiras estavam sendo montadas. Outras pessoas caprichavam na decoração. Havia música e sons de percussão na presença de um grupo de
coco e do Grupo de Capoeira Centro Cultural Madeira de Lei que iniciaram os “esquentes”. Em pouco
tempo já tinha um público modesto, espalhado em pontos diferentes do espaço.
Depois os pedidos começaram a chegar nas mesas e os
comensais em sua maioria, se deleitavam com os sabores do passado, outros
optavam pelo tradicional peixe frito com pirão ou o pastel de peixe, o prato
mais solicitado na cozinha:
Quando os pedidos se acalmaram, era o momento de
fazer as fotos de recordações com os chefs e equipe.
Assista o vídeo abaixo:
Assista os vídeos abaixo:
Assista o vídeo abaixo:
Assista o vídeo abaixo:
A chuva forte chegou, muita
gente deixou de comparecer, mas quem foi não se arrependeu, com certeza valeu a
pena. Pensando nos que não foram, a equipe de gastronomia decidiu continuar
no domingo e nesse dia, o sol se fez presente. O Chef Marcos Lôbo e equipe fizeram outro convite pelas redes sociais:
Assista o vídeo abaixo:
Convite para o segundo dia do evento
O projeto Movimento Caiçara
com suas pesquisas nas colônias de pescadores, trazem muito mais do que os
sabores esquecidos do passado, trazem uma confirmação de que todos aqueles
pratos, de fato, representam aquela comunidade tradicional. O modo de preparar
o alimento, orienta o paladar na decisão se é gostoso ou não, atravessa as
décadas, sofrem influências e se reinventam. Se essa tradição do saber fazer
não for passada pelas gerações, elas entram para o arquivo do esquecimento,
perdem os rastros e se tornam tão raros de se degustar e experienciar como foi esse
evento, que aqui em poucas linhas, fazemos a nossa parte de perpetuar.
Gustavo Pacheco
Blog Atrativo Pernambuco