quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

 


Conservatório da Culinária Afro no Olhar do Chef Marcos Lôbo

No dia 1º de novembro de 2024, teve início o conservatório gastronômico organizado

pelo grupo de estudo CIENES Afro amazônicos e o Instituto Nordestino de

Gastronomia, liderado pelos chefs Carlos Holsen e Marcos Lôbo, respectivamente. O

evento trouxe à tona um debate profundo sobre as raízes e influências africanas nas

culinárias das Américas e da Península Ibérica, ressaltando a interseção entre história,

colonização e gastronomia.






A abertura do conservatório começou com uma reflexão sobre a chegada dos africanos

ao continente americano. Com a diáspora, muitos conhecimentos culinários, técnicas

agrícolas e hábitos culturais foram transportados e integrados nas sociedades coloniais.

Os africanos trouxeram consigo um vasto repertório de práticas agrícolas e

gastronômicas, que gradualmente se fundiram às tradições locais e europeias,

influenciando de forma indelével as cozinhas regionais. Chef Marcos Lôbo destacou a

importância de não permitir que outros países dominem ou desvalorizem as

contribuições africanas para a gastronomia, considerando que fazem parte da identidade

cultural e culinária das nações latino-americanas.

A Influência Afro nas Cozinhas da América Latina e Europa

O evento intitulado "Resistance Cuisine Hot Revolution", uma discussão sobre as

cozinhas afroperuana e afro-hispano-americana, trouxe um ponto importante: a ampla

influência africana nas cozinhas da América Latina. Através de séculos, ingredientes

como o dendê, o leite de coco, e técnicas de preparo de carnes e peixes foram

absorvidos e adaptados nas cozinhas locais. A resistência cultural expressa nos pratos

culinários se revelou um símbolo de identidade e de luta contra a opressão.

Na Península Ibérica, particularmente em Málga, o evento trouxe à tona a influência

mourisca deixada pelos árabes do norte da África, o que contribuiu significativamente

para a culinária da região. Além disso, foram mencionadas as ilhas Canárias, Madeira e

Portugal, com seus papéis históricos no processo de colonização e intercâmbio cultural,

tanto na gastronomia quanto nos costumes. Esses territórios serviram como pontos de

conexão entre África e as Américas, facilitando a troca de ingredientes e saberes

culinários.






Aprofundamento Histórico e Memória Culinária

Um dos aspectos mais fascinantes do conservatório foi a discussão sobre a origem de

certos produtos e técnicas que viajaram com os povos africanos. O professor António,

um dos participantes, expressou sua admiração pelo modo como esses produtos foram

preservados e adaptados nas novas terras, tornando-se fundamentais para a construção

da identidade gastronômica latino-americana. A história dos pratos, suas transformações

e ressignificações ao longo do tempo proporcionaram aos participantes uma nova

perspectiva sobre a importância de manter viva essa memória culinária.

Willian, outro participante, destacou as semelhanças entre pratos africanos e

mesoamericanos, enfatizando como os conhecimentos culinários africanos foram

preservados por séculos, apesar da narrativa histórica muitas vezes tentar apagá-los ou

minimizá-los. Esse legado não foi esquecido, mas sim mantido vivo nas práticas

alimentares que persistem até os dias de hoje.

Sandra, por sua vez, trouxe à discussão sua experiência pessoal ao perceber as conexões

entre a culinária africana e brasileira. O uso do óleo de dendê e do leite de coco em

pratos simples, porém cheios de significados culturais, reafirmou para ela a importância

de preservar e difundir sua herança africana, tanto no Brasil quanto em seu país de

origem.




Conclusão: Um Passo Adiante na Gastronomia Afro

O conservatório de culinária afro, organizado pelo CEINES Afro amazônicos SRL e

pelo Instituto Nordestino de Gastronomia, marcou um importante avanço no

reconhecimento da influência africana nas cozinhas do Brasil, Peru, Colômbia e

Espanha. Este evento abriu novas perspectivas para a valorização das contribuições

africanas à gastronomia e à cultura, e demonstrou que a culinária é, de fato, uma

poderosa ferramenta de resistência e preservação cultural.

O Chef Marcos Lôbo e os demais participantes concluíram que, ao resgatar e celebrar as

tradições afrodescendentes, não apenas estamos honrando o passado, mas também

pavimentando um futuro em que essas tradições continuem a florescer e a enriquecer as

cozinhas do mundo. O caminho traçado é promissor, e este evento foi apenas o primeiro

passo de muitos outros que virão para reafirmar a importância da culinária afro nas

Américas e além.


CONTATO

Pesquisador e Gastrônomo/Chef Marcos Lôbo

Fone / WhatsApp (81) 99788 6975

mlobo199@yahoo.com.br

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