Conservatório da Culinária Afro no Olhar do Chef Marcos Lôbo
No dia 1º de novembro de 2024, teve início o conservatório gastronômico organizado
pelo grupo de estudo CIENES Afro amazônicos e o Instituto Nordestino de
Gastronomia, liderado pelos chefs Carlos Holsen e Marcos Lôbo, respectivamente. O
evento trouxe à tona um debate profundo sobre as raízes e influências africanas nas
culinárias das Américas e da Península Ibérica, ressaltando a interseção entre história,
colonização e gastronomia.
A abertura do conservatório começou com uma reflexão sobre a chegada dos africanos
ao continente americano. Com a diáspora, muitos conhecimentos culinários, técnicas
agrícolas e hábitos culturais foram transportados e integrados nas sociedades coloniais.
Os africanos trouxeram consigo um vasto repertório de práticas agrícolas e
gastronômicas, que gradualmente se fundiram às tradições locais e europeias,
influenciando de forma indelével as cozinhas regionais. Chef Marcos Lôbo destacou a
importância de não permitir que outros países dominem ou desvalorizem as
contribuições africanas para a gastronomia, considerando que fazem parte da identidade
cultural e culinária das nações latino-americanas.
A Influência Afro nas Cozinhas da América Latina e Europa
O evento intitulado "Resistance Cuisine Hot Revolution", uma discussão sobre as
cozinhas afroperuana e afro-hispano-americana, trouxe um ponto importante: a ampla
influência africana nas cozinhas da América Latina. Através de séculos, ingredientes
como o dendê, o leite de coco, e técnicas de preparo de carnes e peixes foram
absorvidos e adaptados nas cozinhas locais. A resistência cultural expressa nos pratos
culinários se revelou um símbolo de identidade e de luta contra a opressão.
Na Península Ibérica, particularmente em Málga, o evento trouxe à tona a influência
mourisca deixada pelos árabes do norte da África, o que contribuiu significativamente
para a culinária da região. Além disso, foram mencionadas as ilhas Canárias, Madeira e
Portugal, com seus papéis históricos no processo de colonização e intercâmbio cultural,
tanto na gastronomia quanto nos costumes. Esses territórios serviram como pontos de
conexão entre África e as Américas, facilitando a troca de ingredientes e saberes
culinários.
Aprofundamento Histórico e Memória Culinária
Um dos aspectos mais fascinantes do conservatório foi a discussão sobre a origem de
certos produtos e técnicas que viajaram com os povos africanos. O professor António,
um dos participantes, expressou sua admiração pelo modo como esses produtos foram
preservados e adaptados nas novas terras, tornando-se fundamentais para a construção
da identidade gastronômica latino-americana. A história dos pratos, suas transformações
e ressignificações ao longo do tempo proporcionaram aos participantes uma nova
perspectiva sobre a importância de manter viva essa memória culinária.
Willian, outro participante, destacou as semelhanças entre pratos africanos e
mesoamericanos, enfatizando como os conhecimentos culinários africanos foram
preservados por séculos, apesar da narrativa histórica muitas vezes tentar apagá-los ou
minimizá-los. Esse legado não foi esquecido, mas sim mantido vivo nas práticas
alimentares que persistem até os dias de hoje.
Sandra, por sua vez, trouxe à discussão sua experiência pessoal ao perceber as conexões
entre a culinária africana e brasileira. O uso do óleo de dendê e do leite de coco em
pratos simples, porém cheios de significados culturais, reafirmou para ela a importância
de preservar e difundir sua herança africana, tanto no Brasil quanto em seu país de
origem.
Conclusão: Um Passo Adiante na Gastronomia Afro
O conservatório de culinária afro, organizado pelo CEINES Afro amazônicos SRL e
pelo Instituto Nordestino de Gastronomia, marcou um importante avanço no
reconhecimento da influência africana nas cozinhas do Brasil, Peru, Colômbia e
Espanha. Este evento abriu novas perspectivas para a valorização das contribuições
africanas à gastronomia e à cultura, e demonstrou que a culinária é, de fato, uma
poderosa ferramenta de resistência e preservação cultural.
O Chef Marcos Lôbo e os demais participantes concluíram que, ao resgatar e celebrar as
tradições afrodescendentes, não apenas estamos honrando o passado, mas também
pavimentando um futuro em que essas tradições continuem a florescer e a enriquecer as
cozinhas do mundo. O caminho traçado é promissor, e este evento foi apenas o primeiro
passo de muitos outros que virão para reafirmar a importância da culinária afro nas
Américas e além.
CONTATO
Pesquisador e Gastrônomo/Chef Marcos Lôbo
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