sexta-feira, 31 de março de 2017

segunda-feira, 27 de março de 2017

Entrevista concedida em 27/03/2017 ao Blog Atrativo Pernambuco, com o presidente do Afoxé Alafin Oyó, Fabiano Santos.



1 – Quando foi iniciado o Afoxé Alafin Oyó e como foi a sua evolução no cenário cultural até os dias atuais?

O Afoxé Alafin Oyó começa sua ação como uma ala no primeiro Afoxé de Pernambuco chamado o Ylê de África que perdurou até o final da década de 70 e na sequencia essa mesma ala começa a compor a ala do Afoxé Ara Odé, por conta da relação do Jorge Morais o nosso primeiro presidente com o Tata Raminho de Oxossi. No ano de 1983 após uma divergência política, pois a ala Alafin queria fazer um embate de desfilar no Recife e em Olinda e o Ara Odé só queria desfilar em Olinda. A Alafin queria fazer rodas de afoxés nos pontos turísticos das duas cidades e o Ara Odé não. Ai vem a divergência e o protagonismo do Alafin Oyó ou mais conhecido como o "Alafin das Olindas". Em 02 de Março de 1986, foi registrado a Associação Recreativa Carnavalesca Afoxé Alafin Oyó, com um único objetivo: lutar In loco contra todo o tipo de discriminação e racismo. E qual era a melhor forma de fazer isso? Ocupando os espaços e criando elementos que movimentasse as comunidades negras. Começa as domingueiras abertas no Mercado da Ribeira (https://youtu.be/MLSw-M34K3g)  como podemos observar neste link. O protagonismo do Afoxé Alafin Oyó, foi se forjando por suas ações e interações em suas festas bombásticas que ligava Olinda a Salvador com os diversos parceiros existentes até hoje, parceiro como: Ylê Ayê, Filhos de Ghandi, Olondum, Muzenza e outros artistas Baianos: Negra Jhó, Juraci Tavares, Mestre Lua Rasta entre outros.   

2 – O Afoxé Alafin Oyó está presente na história pessoal de centenas de pessoas. Como foi que essa relação com o Fabiano Santos se iniciou?

O Alafin Oyó me salvou e me protagonizou, um preto de favela nascido no final de 70, conhecendo toda transição entre a ditadura omissa, Febem como refugio e uma vontade de constituirmos direitos humanos para todos. O Alafin Oyó me fez ver que poderia ser mais do que um negro marginalizado pela cor ou um soldadinho batendo continência para quem nem sabia, então em 1994, sai fazendo corda de isolamento ou corda de segurança para o Alafin em 1995 no centenario de Zumbi dos Palmares. Ao levar uma carta convite do Movimento Negro Unificado para uma apresentação do Alafin, eu e minhas duas primas que também faziam dança comigo no MALCON – X, um núcleo do movimento negro, me encantei com tudo que vi, a força e vontade das pessoas ali naquele espaço e, comecei a frequentar as domingueiras do Alafin que rodava muito pelos os espaços. Então tive entre o ano de 1995 a 1996 no Maracafrevo na Rua do Sol, Mercado da Ribeira, Fundação Casa das Crianças onde cometi meu primeiro delito, pois as oficinas eram marcadas às 14 horas mais a galera só chegava as 16 h. Por ser em um espaço aberto e escurecer cedo, aproveitei, pois era estagiário na empresa de infraestrutura e fiz um ofício solicitando gambiarra com o carimbo de urgente e assinei como presidente, eu que nem sabia tocar um agogô. E no domingo seguinte ficamos até o ensaio acabar, no ano em que Chico faleceu também foi o ano que o Alafin fez 10 anos, lembro como hoje da camisa atrás dela tinha Alafin é 10!! Saímos naquele ano com 563 pessoas de terreiros, movimentos sociais, familiares, os meus saíram todos, primos, tios, irmãs, pai e mãe. No ano seguinte decepção, desvios financeiros entre outros, ficaram cinco pessoas no grandioso Afoxé Alafin Oyó, era Eu, Rivaldo José de Albuquerque Pessoa o presidente, André Jerônimo, Adonias Jeronimo e Ana Maria e fazíamos apresentações, foi quando comecei a trabalhar de faxineiro e passei um ano trabalhando para colocar o Afoxé na rua com a minha indenização, neste mesmo momento virei também tesoureiro da mesma entidade, permaneci até o ano de 2002, resistindo e agregando pessoas. Quando ocupei o cargo de presidente tive algumas providências, uma delas foi de definir sedes que passassem mais de 3 anos  fixo, e em busca de iniciativas que abrangesse o nosso fazer que já era grande. Para isso deixei outros empregos que por muita das vezes me parecia que os orixás queriam que só trabalhasse para eles, pois eu só conseguia ficar até o carnaval ou perto dele. Dai já tinha deixado o serviço militar, empregos e inclusive de estudar, militava 24 horas para elevar o nome do Alafin, ai surge família dentro do alafin, filhos que estão até hoje produzindo e compondo esta grande família . E esta mesma entidade que me fez para de estudar também me fez voltar, voltar para incentivar, voltar para evoluir, hoje falta um ano e meio para concluir o curso de bacharel em direito. Isso foi o elo para colocarmos todo ano integrantes do Alafin também na universidade, hoje já falamos de mestrado e doutorado em nossa entidade. Isso foi parte de coisas dessa relação de respeito e afeto entre mim e esse grande afoxé.                 

3 – Foram muitos carnavais e apresentações registrados na memória do Afoxé Alafin Oyó, todas importantes e fruto de muito trabalho, mas sempre existem aquelas especiais. Do seu ponto de vista pessoal, poderia revelar algumas?

Esse que revelei, o primeiro que desfilei vestido de Alafin, pois sem ter compromisso escrito com a entidade já tinha responsabilidade e já ditava responsabilidades, nós hospedamos no carnaval todo um monte de gente que nem conhecíamos, um total de 130 pessoas contando com os meus familiares, custeando tudo, comida e bebidas.   

4 – Sabe-se que o Afoxé Alafin Oyó tem uma musicalidade muito expressiva e que as letras e composições são muito apreciadas. Como atualmente o Afoxé Alafin Oyó trabalha a questão da própria imagem e sua divulgação?

Temos uma equipe que disponibiliza parte de seu tempo para divulgar nossas ações, festivais, músicas e produtos. 

5 – Como os interessados podem conhecer de perto os trabalhos do Afoxé Alafin Oyó ou acompanhar suas apresentações?

Podem acompanhar via Facebook, blogs e sites, mais se quiser fazer parte dessa família, nós temos uma oficina de percussão, dança e canto durante o ano todo, gratuita, que permite que saia no carnaval seguinte.