Entrevista concedida em 27/03/2017
ao Blog Atrativo Pernambuco, com o presidente do Afoxé Alafin Oyó, Fabiano
Santos.
1 – Quando foi iniciado o Afoxé Alafin Oyó e como foi a sua evolução no
cenário cultural até os dias atuais?
O Afoxé Alafin Oyó começa sua ação
como uma ala no primeiro Afoxé de Pernambuco chamado o Ylê de África que
perdurou até o final da década de 70 e na sequencia essa mesma ala começa a
compor a ala do Afoxé Ara Odé, por conta da relação do Jorge Morais o nosso
primeiro presidente com o Tata Raminho de Oxossi. No ano de 1983 após uma
divergência política, pois a ala Alafin queria fazer um embate de desfilar no
Recife e em Olinda e o Ara Odé só queria desfilar em Olinda. A Alafin queria
fazer rodas de afoxés nos pontos turísticos das duas cidades e o Ara Odé não.
Ai vem a divergência e o protagonismo do Alafin Oyó ou mais conhecido como o
"Alafin das Olindas". Em 02 de Março de 1986, foi registrado a
Associação Recreativa Carnavalesca Afoxé Alafin Oyó, com um único objetivo:
lutar In loco contra todo o tipo de discriminação e racismo. E qual era a
melhor forma de fazer isso? Ocupando os espaços e criando elementos que
movimentasse as comunidades negras. Começa as domingueiras abertas no Mercado
da Ribeira (https://youtu.be/MLSw-M34K3g) como
podemos observar neste link. O protagonismo do Afoxé Alafin Oyó, foi se
forjando por suas ações e interações em suas festas bombásticas que ligava
Olinda a Salvador com os diversos parceiros existentes até hoje, parceiro como:
Ylê Ayê, Filhos de Ghandi, Olondum, Muzenza e outros artistas Baianos: Negra Jhó,
Juraci Tavares, Mestre Lua Rasta entre outros.
2 – O Afoxé Alafin Oyó está presente na história pessoal de centenas de
pessoas. Como foi que essa relação com o Fabiano Santos se iniciou?
O Alafin Oyó me salvou e me
protagonizou, um preto de favela nascido no final de 70, conhecendo toda
transição entre a ditadura omissa, Febem como refugio e uma vontade de
constituirmos direitos humanos para todos. O Alafin Oyó me fez ver que poderia
ser mais do que um negro marginalizado pela cor ou um soldadinho batendo
continência para quem nem sabia, então em 1994, sai fazendo corda de isolamento
ou corda de segurança para o Alafin em 1995 no centenario de Zumbi dos Palmares.
Ao levar uma carta convite do Movimento Negro Unificado para uma apresentação
do Alafin, eu e minhas duas primas que também faziam dança comigo no MALCON – X,
um núcleo do movimento negro, me encantei com tudo que vi, a força e vontade
das pessoas ali naquele espaço e, comecei a frequentar as domingueiras do Alafin
que rodava muito pelos os espaços. Então tive entre o ano de 1995 a 1996 no
Maracafrevo na Rua do Sol, Mercado da Ribeira, Fundação Casa das Crianças onde
cometi meu primeiro delito, pois as oficinas eram marcadas às 14 horas mais a
galera só chegava as 16 h. Por ser em um espaço aberto e escurecer cedo, aproveitei,
pois era estagiário na empresa de infraestrutura e fiz um ofício solicitando
gambiarra com o carimbo de urgente e assinei como presidente, eu que nem sabia
tocar um agogô. E no domingo seguinte ficamos até o ensaio acabar, no ano em
que Chico faleceu também foi o ano que o Alafin fez 10 anos, lembro como hoje
da camisa atrás dela tinha Alafin é 10!! Saímos naquele ano com 563 pessoas de
terreiros, movimentos sociais, familiares, os meus saíram todos, primos, tios,
irmãs, pai e mãe. No ano seguinte decepção, desvios financeiros entre outros,
ficaram cinco pessoas no grandioso Afoxé Alafin Oyó, era Eu, Rivaldo José de
Albuquerque Pessoa o presidente, André Jerônimo, Adonias Jeronimo e Ana Maria e
fazíamos apresentações, foi quando comecei a trabalhar de faxineiro e passei um
ano trabalhando para colocar o Afoxé na rua com a minha indenização, neste
mesmo momento virei também tesoureiro da mesma entidade, permaneci até o ano de
2002, resistindo e agregando pessoas. Quando ocupei o cargo de presidente tive
algumas providências, uma delas foi de definir sedes que passassem mais de 3
anos fixo, e em busca de iniciativas que abrangesse o nosso fazer que já
era grande. Para isso deixei outros empregos que por muita das vezes me parecia
que os orixás queriam que só trabalhasse para eles, pois eu só conseguia ficar
até o carnaval ou perto dele. Dai já tinha deixado o serviço militar, empregos
e inclusive de estudar, militava 24 horas para elevar o nome do Alafin, ai
surge família dentro do alafin, filhos que estão até hoje produzindo e compondo
esta grande família . E esta mesma entidade que me fez para de estudar também
me fez voltar, voltar para incentivar, voltar para evoluir, hoje falta um ano e
meio para concluir o curso de bacharel em direito. Isso foi o elo para colocarmos
todo ano integrantes do Alafin também na universidade, hoje já falamos de
mestrado e doutorado em nossa entidade. Isso foi parte de coisas dessa relação
de respeito e afeto entre mim e esse grande afoxé.
3 – Foram muitos carnavais e apresentações registrados na memória do
Afoxé Alafin Oyó, todas importantes e fruto de muito trabalho, mas sempre
existem aquelas especiais. Do seu ponto de vista pessoal, poderia revelar
algumas?
Esse que revelei, o primeiro que
desfilei vestido de Alafin, pois sem ter compromisso escrito com a entidade já
tinha responsabilidade e já ditava responsabilidades, nós hospedamos no
carnaval todo um monte de gente que nem conhecíamos, um total de 130 pessoas
contando com os meus familiares, custeando tudo, comida e bebidas.
4 – Sabe-se que o Afoxé Alafin Oyó tem uma musicalidade muito expressiva
e que as letras e composições são muito apreciadas. Como atualmente o Afoxé
Alafin Oyó trabalha a questão da própria imagem e sua divulgação?
Temos uma equipe que disponibiliza
parte de seu tempo para divulgar nossas ações, festivais, músicas e
produtos.
5 – Como os interessados podem conhecer de perto os trabalhos do Afoxé
Alafin Oyó ou acompanhar suas apresentações?
Podem acompanhar via Facebook, blogs
e sites, mais se quiser fazer parte dessa família, nós temos uma oficina de
percussão, dança e canto durante o ano todo, gratuita, que permite que saia no
carnaval seguinte.